sábado, 23 de março de 2013

PODER - VIOLÊNCIA - DEPRESSÃO


O mito do poder e sua predestinação é uma das mais complexas invenções deste início de século e milênio.
Cientistas políticos, cientistas sociais, sociólogos, psicólogos, economistas, políticos, desportistas, artistas e, até o simples ser humano comum, organizam suas atitudes e escolhas em torno desta magia irresistível que é a conquista do poder.

De repente, o poder deixou de ser uma virtude e transformou-se em arrogância. O mais cobiçado instrumento de realização.

O empoderamento tornou-se origem e decadência de reputações, prestígios, renomes, fama, sucesso, reconhecimento e outras abstrações construtoras, tanto de identidade como de capacidade para convencer e vencer desafios de si, para si e de outrem para outrem.

Em nome do poder, sonhos, utopias, compromissos, coerências, éticas, são desprezados e colocados nas prateleiras da história pela simples justificativa de pertencerem à galeria dos equívocos do processo civilizatório ou, quem sabe, até dos escorregões do devir humano.

Eventos, efemérides, celebrações, acontecimentos naturais, fictícios ou mesmo sociais, criam uma cortina de fumaça entre a sociedade e os ideais de justiça e de humanidade. Desastres, espetáculos, mortes, nascimento, misturam-se ao egoísmo próprio dos tempos de globalizar e afastar fronteiras, para que desapareçam os limites tradicionais do respeito ao uso e costume de cada região.

Nações atropelam tratados e repactuam, celeremente, em função das demandas urgentes de um cotidiano voltado tão somente às garantias do poder. São esquecidos direitos e deveres na esteira do empoderamento coletivo e amorfo.

Valores básicos de convivência, tornando-se desconhecidos para as gerações informatizadas, reduzem solidariedade, misericórdia, gentileza, compaixão, ternura e tantas outras abstrações do universo emblemático, do indefectível tema: “igualdade, liberdade, fraternidade”, à tipologia das bandas de funk, e devidamente recriadas em neologismos cibernéticos, frutos da linguagem internet, agora são: “ygualdad, lyberdad, fratbrother”, por exemplo.

Onde começa o assombro, onde termina o horror, questionam e interrogam os guardiões da moral e do bom costume, quando a ordem do dia é saber: quem tem poder ???

No mais, a perplexidade e a surpresa embolam-se no pensamento contemporâneo que precisa com urgência abandonar os postulados da física newtoniana e mergulhar de cabeça na surpresa permanente da física quântica e seus milagres eletrônicos.

A outra ponta da contemporaneidade está representada pela dor de cabeça da violência urbana e rural.

Os corpos inanimados amontoam-se na mídia onde a diversidade dos modelos de comunicação social demarca a rapidez da informação. Virtuais ou reais imagens seguidas de palavras transmudam-se em anestésicos e mentes e corações vão se constituindo em elementos estéreis na crítica a tal assolação.

Vida e morte perdem a capacidade de despertar a sensibilidade. Atributos intrínsecos da condição humana, elas desfilam no cotidiano como potencial de resignação e o significado deste binômio afasta-se da função simbólica que deveria resguardar a ética e o comportamento dos seres humanos para o bem ou para o mal.

O que se vê, então, é uma mudança de paradigma não absorvida pela população, que segue a patética revolução dos costumes e não consegue avaliar sua relevância ou não.

Como estaria relacionado esse outro conceito de poder com a explosão da violência gratuita ou premeditada? Seria uma constante a busca do empoderamento se essa questão resolvesse a conquista da felicidade. Entretanto, o que vemos é um atordoamento, uma incompreensão do fenômeno considerado mais popular para as pessoas, as famílias, as instituições e para a imprensa, como se violência fosse algo próprio desta geração, nascida e criada pelo capitalismo em sua fase mais exponencial na atualidade. Fosse tão fácil de perceber assim, logo seria encontrada a fórmula mágica de corrigir tal distorção. A realidade é que hoje a repercussão da violência ultrapassa a sua historicidade.

Acompanha o vai-vem das discussões uma preocupação, talvez de proporção igual à da violência – a intensidade dos estados de depressão que acometem a maioria da população nos moldes da síndrome do pânico.

O olhar sistêmico, entretanto, obriga a serem reconhecidos os vínculos que reúnem poder-violência e depressão.

O elo invisível entre os três estados, este sim implica na verdade relativa sobre eles. E o que se logra, nesta aventura dos tempos contemporâneos, é a questão da liberdade.

Verdade, Liberdade, Felicidade – a trilogia ambicionada, principalmente pelos filósofos do dia a dia e também da Academia – dissolvem-se nos impedimentos ditados por:

• falta de poder
• medo da violência
• negação da liberdade

Diante de tal equação, investigar a solução é descobrir no seu corolário o segredo do enigma.

Ser poderoso é reconhecer no outro a qualidade do poder relacional. Quando brota agressividade entre partes de um processo, é sinal de que uma crise de poder se instalou. Desde a ameaça da força usada como dominação sobre o outro, até a descarada manifestação de coação sobre vítimas na variada tipologia dos crimes hediondos, encontra-se o nó cego da dúvida: quem tem poder???

Sempre opera nas relações a alteridade entre os sujeitos. Isto é, para cada ato que implique vexame e constrangimento existe um despoderamento do opressor que se socorre do poder do oprimido.

Poder é também e, principalmente, a capacidade de elogiar o opositor para que ele recupere a auto-estima a fim de convertê-lo da posição de humilhado, até atraí-lo ao universo do representado, cujo prestígio transcende e o faz nobre.

Tudo isso é só uma tese simplória e pretensiosa (...) para inaugurar o ciclo dos debates.

Quem quiser poder que me siga! Aplicar a Metalinguagem e vir!