O mito do poder e sua
predestinação é uma das mais complexas invenções deste início de século e
milênio.
Cientistas políticos, cientistas
sociais, sociólogos, psicólogos, economistas, políticos, desportistas, artistas
e, até o simples ser humano comum, organizam suas atitudes e escolhas em torno
desta magia irresistível que é a conquista do poder.
De repente, o poder deixou de ser
uma virtude e transformou-se em arrogância. O mais cobiçado instrumento de
realização.
O empoderamento tornou-se origem
e decadência de reputações, prestígios, renomes, fama, sucesso, reconhecimento
e outras abstrações construtoras, tanto de identidade como de capacidade para
convencer e vencer desafios de si, para si e de outrem para outrem.
Em nome do poder, sonhos,
utopias, compromissos, coerências, éticas, são desprezados e colocados nas
prateleiras da história pela simples justificativa de pertencerem à galeria dos
equívocos do processo civilizatório ou, quem sabe, até dos escorregões do devir
humano.
Eventos, efemérides, celebrações,
acontecimentos naturais, fictícios ou mesmo sociais, criam uma cortina de
fumaça entre a sociedade e os ideais de justiça e de humanidade. Desastres,
espetáculos, mortes, nascimento, misturam-se ao egoísmo próprio dos tempos de
globalizar e afastar fronteiras, para que desapareçam os limites tradicionais
do respeito ao uso e costume de cada região.
Nações atropelam tratados e
repactuam, celeremente, em função das demandas urgentes de um cotidiano voltado
tão somente às garantias do poder. São esquecidos direitos e deveres na esteira
do empoderamento coletivo e amorfo.
Valores básicos de convivência, tornando-se
desconhecidos para as gerações informatizadas, reduzem solidariedade,
misericórdia, gentileza, compaixão, ternura e tantas outras abstrações do
universo emblemático, do indefectível tema: “igualdade, liberdade,
fraternidade”, à tipologia das bandas de funk, e devidamente recriadas em
neologismos cibernéticos, frutos da linguagem internet, agora são: “ygualdad,
lyberdad, fratbrother”, por exemplo.
Onde começa o assombro, onde
termina o horror, questionam e interrogam os guardiões da moral e do bom
costume, quando a ordem do dia é saber: quem tem poder ???
No mais, a perplexidade e a
surpresa embolam-se no pensamento contemporâneo que precisa com urgência
abandonar os postulados da física newtoniana e mergulhar de cabeça na surpresa
permanente da física quântica e seus milagres eletrônicos.
A outra ponta da
contemporaneidade está representada pela dor de cabeça da violência urbana e
rural.
Os corpos inanimados amontoam-se
na mídia onde a diversidade dos modelos de comunicação social demarca a rapidez
da informação. Virtuais ou reais imagens seguidas de palavras transmudam-se em
anestésicos e mentes e corações vão se constituindo em elementos estéreis na
crítica a tal assolação.
Vida e morte perdem a capacidade
de despertar a sensibilidade. Atributos intrínsecos da condição humana, elas
desfilam no cotidiano como potencial de resignação e o significado deste
binômio afasta-se da função simbólica que deveria resguardar a ética e o
comportamento dos seres humanos para o bem ou para o mal.
O que se vê, então, é uma mudança
de paradigma não absorvida pela população, que segue a patética revolução dos
costumes e não consegue avaliar sua relevância ou não.
Como estaria relacionado esse
outro conceito de poder com a explosão da violência gratuita ou premeditada?
Seria uma constante a busca do empoderamento se essa questão resolvesse a
conquista da felicidade. Entretanto, o que vemos é um atordoamento, uma
incompreensão do fenômeno considerado mais popular para as pessoas, as
famílias, as instituições e para a imprensa, como se violência fosse algo
próprio desta geração, nascida e criada pelo capitalismo em sua fase mais
exponencial na atualidade. Fosse tão fácil de perceber assim, logo seria
encontrada a fórmula mágica de corrigir tal distorção. A realidade é que hoje a
repercussão da violência ultrapassa a sua historicidade.
Acompanha o vai-vem das
discussões uma preocupação, talvez de proporção igual à da violência – a
intensidade dos estados de depressão que acometem a maioria da população nos
moldes da síndrome do pânico.
O olhar sistêmico, entretanto,
obriga a serem reconhecidos os vínculos que reúnem poder-violência e depressão.
O elo invisível entre os três
estados, este sim implica na verdade relativa sobre eles. E o que se logra,
nesta aventura dos tempos contemporâneos, é a questão da liberdade.
Verdade, Liberdade, Felicidade –
a trilogia ambicionada, principalmente pelos filósofos do dia a dia e também da
Academia – dissolvem-se nos impedimentos ditados por:
• falta de poder
• medo da violência
• negação da liberdade
Diante de tal equação, investigar
a solução é descobrir no seu corolário o segredo do enigma.
Ser poderoso é reconhecer no
outro a qualidade do poder relacional. Quando brota agressividade entre partes
de um processo, é sinal de que uma crise de poder se instalou. Desde a ameaça
da força usada como dominação sobre o outro, até a descarada manifestação de
coação sobre vítimas na variada tipologia dos crimes hediondos, encontra-se o
nó cego da dúvida: quem tem poder???
Sempre opera nas relações a
alteridade entre os sujeitos. Isto é, para cada ato que implique vexame e
constrangimento existe um despoderamento do opressor que se socorre do poder
do oprimido.
Poder é também e, principalmente,
a capacidade de elogiar o opositor para que ele recupere a auto-estima a fim de
convertê-lo da posição de humilhado, até atraí-lo ao universo do representado,
cujo prestígio transcende e o faz nobre.
Tudo isso é só uma tese simplória
e pretensiosa (...) para inaugurar o ciclo dos debates.
Quem quiser poder que me siga!
Aplicar a Metalinguagem e vir!