segunda-feira, 26 de setembro de 2011

26 de Setembro - Aniversário de Mentirinha

                Falando um pouco sobre pai e mãe...
Um casal gera filhos e, então a vida se inicia, para estes, é claro!
Seu Allyrio e D. Marita foram os responsáveis diretos por trazerem à existência Geraldo e Maria do Carmo. Ou, melhor criaram “Adi e Minaco”. Obras de arte de família Castro Araújo. Ele médico, ela professora. Cresceram recebendo influências variadas de bom gosto, extravagância, gaiatice, trapalhadas e muitíssimo humor, bom e mau.
Sim, porque o casal fazia questão de sublinhar suas radicais diferenças. Enquanto Allyrio exercitava o timbre barítono de sua voz, Marita caprichava na dança de salão. Um cantor e uma bailarina espectando os dois filhos que acompanhavam as experiências do cotidiano de pessoas honradas, trabalhadoras apaixonadas por política e futebol sempre no eixo Getúlio Vargas e Flamengo, respectivamente...
A “novidade” era o estilo peculiar de papai Allyrio. Sempre trazendo o insólito extraído de seu trajeto do trabalho para casa.
Às vezes era acusado de inventar histórias pitorescas que só ele com sua perspicácia observava para relatar ao chegar em casa. Ou trágicas ou cômicas todos os dias à hora do jantar havia o espetáculo teatral de seu Allyrio. D. Marita costumava dizer: “Faz a festa e solta os foguetes!”.
Tal era o entusiasmo do narrador que até se acreditava mesmo que em seus áureos tempos de juventude fizera teatro em Niterói com a turma do Rádio Nacional. Ninguém menos do que Isis de Oliveira, a talentosa estrela das novelas de rádio, dos anos 40 e 50..., era sua colega de experiências dramatúrgicas amadoras.
Era uma figura o seu Allyrio!? Gostava de fazer mágicas e contar piadas, as preferidas eram as de patrícios de além mar com o auxílio luxuoso de um perfeito sotaque português. Enfim a convivência com ele era uma festa, um show! Em sua coleção de álbuns musicais, juntava o fino gosto pela música clássica ao repertório requintado e afinado da música popular brasileira e internacional. Destaque para as canções americanas e para os grandes temas da música italiana e espanhola. Ao chuveiro entoava “Granada”, soltando o “dó de peito”, abalando até a louça da cristaleira de D. Marita...
Ela tinha lá suas preferências... Estudara piano quando criança e gostava de tocar “La Cumparcita”, um tango argentino que infelizmente só recordava no máximo dois compassos. Todos ficavam na frustração por não escutarem a música até o final. D. Marita abusava de seu imenso carisma para atrair muitos elogios. E, não eram poucos, pois a formosa morena havia sido Miss Itaboraí, em sua juventude. Nas festas de família, havendo piano à vista todos pediam em coro: “Toca, Marita, toca!”.
A história apesar de parecer repetitiva produzia um efeito incrível como se fosse sempre a primeira vez.
Doces anos, da vida em família, onde felicidade, afeto e brincadeiras marcavam os corações e as mentes de toda a criançada. Espalhavam experiências despertando em cada um o desejo de dar continuidade à genealogia e promover outras gerações.
Entre rodopios e cantorias abriam-se as cortinas de um palco onde realidade e fantasia conjugavam harmonia e paz!
É apenas um recorte modesto de uma época onde o olhar infantil reproduzia o sonho de que viver vale a pena e o ser feliz é um compromisso humano pela preservação da comunidade como forma de inclusão e amor.
Os netos não conheceram o seu Allyrio. Quisera a partir dessa faceta de sua vida, possa ser dada a ele a absolvição de seu pecado... Soltou as amarras e foi pelo mundo emprestar seu “bom humor” alhures...
Quem sabe, a verve cultural desse avô não tenha provocado o surgimento dos talentos musicais e artísticos que são atraídos pelos seus descendentes. O palco e a ousadia conjugam arte e alegria no cântico que entoam, e conquistam fãs!!!
À D. Marita, no seu “aniversário de mentirinha”, post-mortem, devolvo seu Allyrio como presente. Num dia de São João com você subiu ao altar e ali fizeram votos de “felizes para sempre”.
E, assim: “Descansem em Paz”.
“Entrou por uma porta e saiu por outra. Quem quiser que conte outra!”