quinta-feira, 23 de dezembro de 2010

2010 NATAL SEM NATAL; MAS COM JESUS, QUE BENÇÃO!

Só,
Me abandono
No forte
Temerário
Sentimento
Atrós
Sofrimento
Insiste

Etapa
Doendo
Nas entranhas
Um coração
Partido
Ao meio
Termo
Do amor

O fim
No
Ano
Infindável
Existência
Interrompida
Espera
Liberdade
Cerceada

Esquálida
Figura
Vagando
Entre
Paredes
Muros
Altos
Invadidos

Ver
Através
Em brechas
Mostruários
Sem vitrines
Sólidas
Escarpas
Intransponíveis

Mestre
De menino
Jesus
Nascido
Prá
Salvar
Humana
Espécie
Redimida
Dor
Dilacerante
Acuda!

Natal 2010
Um sopro
Empurrando
A permanência
Mais um
Pouco

Contentamento
De amigos
Reunidos
Ao redor
Ceiam
Parca
Mesa
Iguarias
Transferidas
P’rá além

Das
Boas Festas
Restam
As lembranças
Fotografias
Apagadas
Desastres
Guardados
Na
Roda de Fogo
Do Destino

Como nos anos anteriores, uma poesia atravessou a inércia existencial, e intrigou-me até se materializar no papel!?... Ainda escrevo no papel!?...
Depois de construí-la assustei-me com o conteúdo amargo, incompatível com o Mania de Melhorar. Lia Paula minha consultora preferida chegou a observar-me: “- Mãe essa poesia está um fel!?...”.
Debrucei-me em reflexões investigando o motivo dessa amargura vários dias, e encontrei com a leitura da Palavra de Deus apoiada no livro de meditação - “Pão Diário”... a resposta. E passo a afirmar – Com essa poesia encerro um ciclo de minha vida. Viro as costas para o sistema e assumo o compromisso transcendental de viver na dependência total do Poder de Deus. Receber a graça do Espírito Santo em minha vida...
O ano de 2010 foi terrível. Como venho dizendo – um ano sem datas, só dias!!! Suportei o antes e o depois dos sinistros, tombos e tempestades foram o durante; sem despedir-me de meu irmão, tão precocemente ausente; sem participar da formatura de advogado de meu filho Raul; saber de minha cunhada Maísa doente e não visitá-la, entre outros acontecimentos. Muito triste reconhecer tais impedimentos face às condições atuais enfrentadas...
Adiando toda e qualquer comemoração, chego ao Natal com a sensação de retorno à liberdade, entretanto. Aquela liberdade que não se submete ao Mercado. Não exige sacrifícios de ninguém e, principalmente não responde sim aos atrativos do consumismo.
Já há muito tempo abdico de compartilhar a loucura do ir às compras nessa época, a qual também coincide com o início do verão dos trópicos. Que horror!!??
Agora é tempo de absolvição total de qualquer culpa, ou mesmo cumplicidade com os shoppings. É muito bom descobrir que é possível viver sem isso!?...
Tenho muitos agradecimentos a fazer:
À Deus por tamanho livramento que me proporcionou. Venci sentimentos invejosos, desapontamentos, decepções, preconceitos e, etc... etc...etc.... Preciso ressaltar o apoio direto e indireto de uma infinidade de pessoas, sensíveis aos infortúnios provocados pela ação da Natureza sobre mim e Lia Paula e os nossos simplórios bens...
À Mariana, Juliska e filhos, Vera Magalhães, Lia Vieira, Ciomara, Rosinha, Sérgio Ivan, Flávio Arthur, Raul Guilherme, Ivan, Dulce, Juninho, Vera Lúcia, Ademir e seus filhos e sobrinhos – com suas contribuições viabilizaram enfim, o Fundo Financeiro Para Lia Paula – FFLIPA -.
Mesmo diante de adversidades e complicações do cotidiano, na ordem do intransponível, tive a benção de acordar todas as manhãs de 2010 com uma alegria no coração, inexplicável que me enchia de coragem e vigor para enfrentar perigos, tarefas, esforços, complexidades, medos e, sobretudo, aporrinhações de conviver com os destroços que nos cercam, diariamente... Tudo me deixava cada vez mais consciente do valor da vida de maneira indefectível, porque “o Espírito Santo se move em mim!!!” Sei que Deus tem um plano maravilhoso para nossas vidas – Maria do Carmo e Lia Paula.
O Ano de 2011 acena com um convite para compartilhar. As datas voltarão com sinceridade e amor.
Deixo para trás as perdas. As tristezas, as agressões gratuitas, as surpresas desagradáveis, as fotos do álbum de família cujos estragos foram impiedosos. Mesmo a faceirice de Minaco foi abalada sem perdão...
Capturo a energia espiritual para valorizar os ganhos. O símbolo maior da renovação é o nascimento de Jorge Monteiro de Castro Araújo ampliando e perpetuando a família – meus queridos sobrinhos Geraldo André, Giana Cláudia e Geisa Carla.
A vida renascendo na chegada de um bebe. Milagre e Poesia em meio ao caos, e abolindo a futilidade em época de falsa prosperidade...
À Wilson e Valesca eu dedico minha gratidão pela fidelidade desse casal que apesar do desconforto do local me paga, para continuar exercitando o dom que recebi de Deus – cuidar de conflitos e sofrimentos de quem procura pela Psicóloga Maria do Carmo – Mania de Melhorar.
Às primas e tia Cidélia, Dina e Dione respectivamente, muito obrigada por terem compreendido e respeitado minha necessidade de reclusão e silêncio, para ouvir a voz de Deus.
Aos meus filhos homens quero mostrar o meu orgulho por tudo que eles são. Nesse inventário de um ano tão cruel desculpo-me pelas ausências e falta de atenção todos esses anos, direta e indiretamente, em virtude dos cuidados para com a irmã de vocês. Sinto mais ainda por não ter partilhado com vocês também esse privilégio. Além de Deus, é Lia Paula quem inspira a coragem para confrontar os reveses das últimas décadas. Os três ainda têm tempo para desfrutar a inteligência, sua paciência e a serenidade com que supera limites tão estreitos de sua qualidade de vida. Ela é demais!!! Ela é irmã, sangue de vocês.
Aspiro mais do que favores. Antes mais amor e muitíssimo respeito pela minha história de vida com vocês quatro.
As noras dedico meu apreço e minha afeição. Aos netos uma experiência de avó. O legado de uma vida honesta, determinada e intransigente com os verdadeiros valores do acervo humano. Digam não aos interesses mesquinhos dos oportunistas. E aí sim partam para o abraço. Eu amo! E sou idosa.
Recomendo a leitura:
Lucas: 12 - Versículo 15 – “A vida do homem não consiste na quantidade de seus bens”. Versículo 34 – “Onde estiver o seu tesouro ali também estará o seu coração”
Lucas: 01 - Versículo 37 – “Nada é impossível para Deus”.

sexta-feira, 12 de novembro de 2010

Prá Inglês Ver

Costumávamos recortar letras de música americana nas revistas da época. Tudo era meticulosamente colado num caderno tal e qual os álbuns de figurinhas. Finais dos anos 50. A música dos gringos predominava nas emissoras de rádio – Rádio Eldorado.
Geraldo meu irmão, mesmo não cantando, junto como eu fazia gostava de ouvir os programas musicais. Ficávamos horas e horas nos deliciando com os repertórios de Cole Porter, Gershwin, Ray Connif, Rogers e Hammerstein. Depois o Rock and Roll dominou!!!

Temas de filmes embalavam sonhos, fantasias ao mesmo tempo em que abrasavam os corações. O American Dream com o pós-guerra contagiou o mundo. Parecíamos todos os adolescentes, pollyannas no otimismo e na paixão.

Corações apaixonados pelo american way of life, estudar inglês era impreterível!?... Mas, filhos de funcionários públicos, como pagar o curso? Minha mãe conseguiu ser admitida na Cia de Energia Elétrica distribuidora de luz no interior do RJ – Macabu depois Celf até se transformar-se na velha Cerj, hoje propriedade dos chilenos com o nome de Ampla – tendo herdado o monopólio do fornecimento de energia para todos os municípios do RJ com exceção da capital, a cidade do Rio de Janeiro.

Como filhos de funcionária da Cerj – D. Marita, vivíamos visitando o local de trabalho de mamãe. Era hábito as crianças acompanharem os pais para trabalhar...

O horário da repartição era a referência da agenda diária. Café da manhã ás 7:00 hs. Os pais iam para o trabalho e as crianças para a escola. A rotina do cotidiano incluía o horário rígido do almoço entre 11:30 hs e 13:30 hs e, a pontual reunião familiar em torno da mesa do jantar ás 19:00 hs. Eram horários imprescindíveis para todos estarem em casa, senão... Agüenta a carranca e a bronca de D. Marita. Assim, seguíamos sendo uma família típica e pequeno burguesa. Pai, mãe e um casal de filhos. A boy for you and a girl for me, uma de nossas(eu e adi) músicas favoritas, cantada pela loiríssima Dóris Day...

Geraldo dizia freqüentemente para mim: -“Vou estudar inglês na Cultura Inglesa.”

Tanto quis! Logo mamãe achou uma maneira para conseguir o dinheiro. Obteve permissão dos diretores da Celf para vender o cafezinho tradição das repartições públicas. Meu pai se encarregou de adquirir as recém fabricadas garrafas térmicas e, quem passava pelos departamentos dos funcionários? Ele mesmo o tímido Geraldo. Foi tanto o sucesso da empreitada que o dinheiro apurado deu para custear não só a Cultura Inglesa para Adi mas, também para mim... Elogios dos funcionários encheram-nos de orgulho... Bons tempos.

Olhando pela linha do tempo sei avaliar o significado da atitude do meu querido irmão. Passou por cima de preconceitos de classe mas conseguiu seu objetivo; estudar inglês na Cultura Inglesa onde tornou-se um aluno excepcional. Durante cinco anos recebendo mérito de melhor aluno, todo o tempo...

Foram anos bem difíceis de finanças. Por outro lado, as conquistas na área intelectual compensaram o sacrifício de mamãe e papai. Ambos Adi e Minaco (meu apelido) não decepcionavam quando o assunto era êxito intelectual.

Entre conceitos pragmáticos de influência norte-americana e a realidade dura do trabalhador brasileiro, nos tornamos os dois, marxistas de carteirinha e de movimento estudantil.

Era um eterno contraditório nos anos 60, principalmente os iniciais. Praticantes na 1ª Igreja Batista de Niterói e militantes das lutas sociais de forte influência cubana. Do mito Fidel Castro ao herói Che Guevara, tudo era aventura, emoção e suspense.

Entre o curso de medicina na Universidade Federal Fluminense (UFF) e as reuniões clandestinas na calada da noite, o futuro Dr. Geraldo deixava sua contribuição para a História da Democracia no Brasil.

Pelo meu lado ia me constituindo como professora de Historia também pela UFF e na preparação da celebração do casamento tão esperado por D. Marita.

Cumpra-se a tradição e o sonho de minha mãe: Filho Médico, Filha Professora (casada!!).

A pergunta que surge, entretanto é: “- Quanto de felicidade foi constituída em nossas vidas???”

Adi, meu irmão terá minha admiração eterna. Viveu como um grande homem na estatura de seu caráter invejável e, digno de ser imitado!

Te amo!

segunda-feira, 27 de setembro de 2010

PRIMAVERA E ELEIÇÕES

Sem resposta nunca! Direito de resposta é lei de imprensa...
Não se trata de eleger culpados, mas sim escolher autoridades... Quem governa precisa ter compromissos. Com o passado. Com a memória. Com a liberdade. Porque a democracia se impõe na prática. Não é vendida em supermercados. Nem em lojas de departamentos. Jamais imposta nos gabinetes. Cada gesto. Cada palavra. Cada atitude. Geram ou destroem a democracia. Conviver com as diferenças. Acatar diversidades. Preservar a independência nas decisões. Conduzir a proposta de Paz. E, principalmente reconhecer que a democracia é o império da Lei.
Foram anos de construção de um projeto de governo. Discursos entusiasmados. Enfretamento das forças contrárias. Suor, sangue, lágrimas... Emoções sufocando o grito. Corações batendo no ritmo da esperança de conquistar um poder impar porquanto coletivo e não de um só!?...
É com pesar que vejo Lula de “painho” tendo a mão beijada por “sinhozinho” Lindberg. Que é isso companheiro!?... Amigos fazendo a política do voto útil, prática que condenávamos nos tempos de Lei Falcão... Voto Camarão?!... Sem cabeça para significar protesto... Anacronismo é o que estou presenciando nas Eleições 2010.
O pluripartidarismo não pode ser protelado para o amanhã. Ele é hoje num universo múltiplo de siglas e candidatos.
Não quero escolher entre dois, mas antes, entre vários. Quem reconhece qualquer Programa de Governo do PT? Ações orquestradas para se perpetuar no Poder? Que saudade dos momentos idos do dilema repetido nas intermináveis reuniões que entravam pela madrugada a fora.
“-PT, Partido de Quadros ou Partido de Massa?”
Agora é Partido de Lula – quebra a democracia interna e impõe a candidatura Dilma, por conveniência? Por vaidade? Por ambição de poder?
Não sei não, mas, esta Eleição da Primavera de 2010 está com cara de escolha entre MDB e Arena...
Sinto muito!!! Neste “Caldeirão” eu não caibo!
Maria do Carmo Castro Araújo de Queiroz

terça-feira, 31 de agosto de 2010

ADI – MEU IRMÃO

“... para que nos tornássemos um modelo para ser imitado.”
II Tessalonicenses Cap 2:9.

Naquela estação de trem surgiu em nós a idéia de família – Nova Friburgo. Papai, mamãe, você e eu... Sozinhos para a grande aventura da infância.
A cidade nos acolhia afetuosamente e desenhava uma história de luta e muita felicidade. Quatro e seis anos eram nossas idades cronológicas.
As lembranças dos primeiros tempos são mais fantasias do que realidades. Relatos feitos por papai e mamãe. Ele aumentando o valor dos acontecimentos e, ela com a dramaticidade que lhe era peculiar.
Diante de nossos olhos assustados os novos amigos preenchiam o cotidiano com solidariedade e sobejas manifestações de carinho.
Ruth e Simonini com os filhos miúdos Ana Maria e Paulo Cesar cuja casa nos abrigou até conseguirmos alugar uma casinha pequena montada aos poucos, com doações e objetos comprados com muito sacrifício.
Papai tinha conseguido transferência no emprego público onde exercia uma função administrativa. Foi designado para gerenciar a construção do Fórum de Friburgo pela Secretaria Estadual de Obras RJ. Mamãe logo foi admitida na Legião Brasileira de Assistência.
O rol de amigos aumentava na razão geométrica por conta da facilidade de relacionamento de papai e mamãe.
Laginestra, Bisotto, Zarife só para citar as ilustres famílias locais que nos recebiam como perfeitos anfitriões e mesmo tutores de nossas alienígenas maneiras trazidas da Niterói querida. Agora, era sede do clã familiar em virtude de lá estar a casa do “velho” e da “velha” – os amados avós Pepê e Celina.
Meu irmão, meu Adi querido foi se tornando meu herói, principalmente depois daquela aventura de sairmos numa manhã ensolarada, montado na sua bicicletinha aro 20, carregando corajosamente a irmãzinha no quadro daquela máquina. Como sempre a idéia saía de minha brilhante cabecinha de vento. Nesta manhã quando acordei vi que mamãe e papai não estavam em casa. Logo chamei Adi e chorando o convenci que eles tinham fugido e nos largado. Naquela casa enorme que há pouco tempo havíamos alugado de Seu Elias – Av. Rui Barbosa, 39A. A porta da casa ficava numa escada por ser um sobrado, o que nos obrigava a descer. A fechadura alta demais para as estaturas dos aventureiros quase nos fez abortar o plano. Foi aí que arquitetei o mais fabuloso projeto de pedir a alguém que passasse em frente a casa para abrir a porta para os abandonados. A casa tinha uma varandinha que possibilitou por em prática a nossa intenção de sair para procurar os nossos “pais fugitivos. Convenci um homem que passava comovendo-o com minhas aflições, e ele consentiu em fazer. Jogamos a chave. E, lá fomos nós avenida à fora em direção a praça principal de Friburgo...
Eu chorava sem parar enquanto Adi suava o agasalho para conduzir a sua bicicletinha tinhosa.
Enfim, por esses acasos típicos das cidadezinhas pacatas do interior, fomos avistados por papai e mamãe que vinham com sacolas carregadas com produtos da feira tradicional de verduras e frutas cujas atividades começavam bem cedo para não atrapalhar as ações laboriosas da população.
Apesar de nos render castigos e repreensões também transformou-se em assunto para conversas nas reuniões dos amigos...
Adi meu herói. Crescia cada vez mais o meu sentimento de estar protegida por meu irmão.
E, assim aumentávamos as idades ao mesmo tempo que fortalecíamos os laços de família.
Como se vê, meu irmão por não poder conviver com seus sofrimentos finais, reporto-me ao seu começo e conforto o meu coração que agora precisa aceitar a ausência permanente e definitiva de quem sempre representou um exemplo de força, honestidade, honra, dignidade e determinação.
Transformo a melancolia pela dor de sabê-lo doente, pelo luto de senti-lo perdido pela condenação da condição humana – vida e morte – a traçarem o limite trágico de nossa existência.
É um orgulho para mim compartilhar o mesmo tipo sanguíneo. Somos irmãos!
O seu legado é também a virtude de permanecer Geraldo Trindade de Castro Araújo apesar de todas e abusivas incompreensões. Você é um exemplo a ser imitado por todos os nossos descendentes.
Foi só um recorte de minhas infindáveis lembranças de nossa infância plena de companheirismo e sonhos. Em todas as áreas compartilhamos o mesmo ideal. Vencer os obstáculos pelo trabalho, pela luta, pela ética sempre respeitando e preservando as pessoas e o planeta.
O Sistema que o seduziu, paradoxalmente o exilou porquanto não aceitou o alto preço de comprar-lhe a consciência. E, a decepção pelos efeitos nefastos dos tempos de ganância, com certeza abreviou-lhe os anos de vida.
Por onde passou deixou no rastro as linhas mestras de seu caráter, sua seriedade, seu espírito crítico, sua sabedoria e o alto grau de conhecimento intelectual bem como, seu instinto natural sobre organização e método. Ave Adi – o DNA da dignidade humana.
Sua irmã que te ama
Maria do Carmo Castro Araújo de Queiroz
“imitar um bom exemplo tem mais valor do que aplaudi-lo” - transcrito

quinta-feira, 21 de janeiro de 2010

Adhemar Reis

Maricá, 20 de janeiro de 2010

Há de amar reis. Seu nome seu destino. Autoridade para ele tinha requintes de “palavra de rei”. Sem discussão. Réplica, nem pensar...!
Poderia ter aparência de submissão? Muito pelo contrário. Era respeito. Acreditava em predestinação. Cabeça erguida. Olhos azuis entusiasmados. Sorriso aberto. Assim percorria corredores e gabinetes. Nenhuma barreira impedia o seu acesso. Do hall ao centro do Poder. Todos reconheciam o salvo conduto que marcava sua presença na Prefeitura. A política exercia-lhe fascínio. E Adhemar Reis refletia este sortilégio com arrebatamento. Ou, quando liderava as caminhadas pelas ruas da cidade nas campanhas eleitorais. Ou, nas celebrações da vitória. Conhecia e era conhecido. Pelo povo. Pelos postulantes. Pelos eleitos. Enfim por todos os niteroienses. Dos eventos sociais. Dos encontros políticos. E da vida cultural da cidade.
Figura contraditória. Cultivava um ar enigmático no que se referia à sua vida privada.
De quantas histórias era personagem. Nos mais diversos papéis construídos nos textos comentados nas cercanias do Poder. Nas esquinas e nas praças.
Nada transparecia dessa privacidade resguardada na simplicidade de sua inteligente maneira de escapar das tentativas de penetrarem em sua intimidade.
Só utilizando o olhar do restaurador era possível chegar perto de seus segredos. Por que o olho do restaurador vê além dos objetos gastos ou mesmo degradados e dos estragos praticados por quem não zela por relíquias e despreza preciosas obras de arte.
Esse olhar contra estragos e ações predatórias vem acompanhando há muito tempo, minha passagem na política da Niterói contemporânea. Vejo na transcendência sempre o belo com realce na estética e finalizando na virtude.
Moralismo à parte, virtude é importar-se com o outro, ultrapassando os limites da vilania e da crueldade.
Um dia me presenteou com um ursinho de pelúcia que trago comigo até hoje. Alguém no meio da parafernália e da agitação do poder enxergou o significado de uma colecionadora de brinquedos de pelúcia.
Unimos assim nossa paixão imensa por Niterói e suas idiossincrasias surpreendentes. Porque Niterói é quântica.
Ele se foi de forma brutal e pérfida. Vítima da ausência de misericórdia e cortesia que permeia hoje, assustadoramente a todos nós e o tecido social.
Dois crimes foram praticados: contra sua vida e, no cotidiano de uma cidade que perde com seu ilustre cidadão, o jeito niteroiense de ser feliz por se orgulhar da marca registrada que a define – Niterói cidade Sorriso.
Que hoje chora a perda de mais um de seus pilares de orgulho de a ela pertencer.
De luto nos deixamos arrebatar pela saudade de quem jamais esqueceremos.
Assim homenageio alguém que por esses designos do destino esbarrei no meio de tanto atordoamento.
Sua amiga ausente
Maria do Carmo Castro Araújo de Queiroz

Ps:Deixo-lhe neste texto singelo e despretensioso uma frase sua que tenho certeza que muito o emocionou: “A Praça da Paz Celestial”.
Quem não se lembra da cena antológica de um franzino chinês fazendo parar um tanque de guerra. Sozinho apenas com sua coragem de companheira. E a dignidade de um cidadão.
Escutei pelo menos um ano inteiro Adhemar usar como cumprimento: “Carminha a Praça da Paz Celestial...”. Não era preciso entender. Mas, apenas refletir...